PARANÓIA by Midu Gorini


A VELHA CASA, judiada pelo tempo, mais parecia um pequeno casarão antigo e mal assombrado, pelas árvores tortuosas cujas sombras frondosas a rodeavam. Ou talvez pelas almas das pessoas, as quais viveram o seu cruel destino dentro de suas paredes descascadas e infiltradas pela umidade.
        Ali estava a velha casa, abandonada à sua realidade, contudo não foi sempre assim, um dia ela já foi bela e bem cuidada.
        Nesta época uma pequena família morava na casa, o ferroviário Geraldo, a sua esposa Matilde extremamente religiosa e o filho único de vinte anos, Miguel, possuidor de muitos quilos acima do peso ideal, beirando a obesidade mórbida.
        Os três viviam na mais completa desarmonia dentro da casa, Geraldo um marido impotente e pai relapso, Matilde uma esposa frígida e mãe que não se conformava com as atitudes do filho, ele por sua vez, não tolerava as opiniões e os ensinamentos moralmente rígidos dados pelos pais.
        Dia e noite era um clima de tensão entre eles, até aquele fatídico dia, daquela fatídica manhã ensolarada, quando tudo começou a se resolver definitivamente entre os três.
        Miguel acordou da noite bem dormida excitado como nunca, na penumbra da suíte ele abriu a porta do banheiro privativo e lá estava ela, linda, irresistível, a mulher dos seus sonhos, das suas mais íntimas fantasias, nua, sedenta para aplacar os instintos mais primitivos e selvagens dele.
        Fizeram amor como se não houvesse amanhã, de todos os jeitos de todos os lados até que às pancadas na porta do quarto interromperam os gemidos e gritinhos de prazer, Matilde ordenava que Miguel fosse almoçar imediatamente.
        Ele foi sozinho, sentou-se à mesa e escutou as reclamações do pai e da mãe. Geraldo insistia que Miguel arranjasse um emprego, Matilde que ele fosse converter-se na Igreja e livrar-se de suas tentações carnais. O obeso filho irritadíssimo abandonou o tenso almoço e retornou para a suíte, chegando lá abriu as portas do grande guarda roupa e ali estava ela, linda, sentada junto às suas roupas, a mulher dos seus desejos, a mulher dos seus carinhos.
        Mais uma vez se amaram como se não houvesse amanhã, gotas de suor perdidas de prazer serpenteavam o rosto de Miguel quando as horripilantes pancadas na porta interromperam abruptamente aquele momento de amor. Matilde exigia a presença do filho na sala.
        Ele foi sozinho, sentou-se à mesa e foi sumariamente exorcizado por um pastor, isto tirou Miguel do sério, irritadíssimo ele abandonou a sala e retornou para a suíte, em seguida despiu-se e debaixo da cama resgatou a mulher da sua vida, uma morena de bom tom gostosa como bombom e mais uma vez se amaram e mais uma vez respiraram e transpiraram com imenso prazer à volúpia daquela tórrida paixão.
        A tarde já arde covarde ao sol quando Geraldo chegou do trabalho, irada a esposa reclama do filho, o casal discute, Matilde se desespera pega a chave reserva da suíte do filho, uma faca do tipo peixeira para assustar a moça que estava com ele e invade intempestivamente a suíte de Miguel.
        A mãe atônita, pasma, desorientada descabela-se ao ver o filho nu ao lado de uma boneca inflável comprada em um sex shopping de pretensa qualidade. Matilde descontrolada passa a esfaquear a boneca de um metro e setenta, varias vezes para o desespero de Miguel, depois a mãe leva o que sobrou da boneca esfaqueada para o marido ver.  
        Geraldo reconhece que o filho trouxe o pecado para dentro de casa, o casal volta discutir onde um jogava a culpa no outro pelos atos obscenos do filho. Neste exato momento Miguel entra na sala esfaqueia o pai e a mãe, os dois esvaem-se em sangue, agonizando até morrer. O filho nu, sem remorso pega o que sobrou da mulher dos seus pecados, enrola-a em um lençol com carinho e sai caminhando pelas ruas com ela em seu colo, chocando a pequena e pacata sociedade local, da cidadezinha histórica do interior mineiro. 
 
Nota do autor: “Paranóia” é uma adaptação livre inspirada no filme curta metragem “Distúrbio” de Mauro d´Addio, para conto literário.

Copyright © 2011 Midu Gorini. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
 

A VELHA CASA, judiada pelo tempo, mais parecia um pequeno casarão antigo e mal assombrado, pelas árvores tortuosas cujas sombras frondosas a rodeavam. Ou talvez pelas almas das pessoas, as quais viveram o seu cruel destino dentro de suas paredes descascadas e infiltradas pela umidade.
        Ali estava a velha casa, abandonada à sua realidade, contudo não foi sempre assim, um dia ela já foi bela e bem cuidada.
        Nesta época uma pequena família morava na casa, o ferroviário Geraldo, a sua esposa Matilde extremamente religiosa e o filho único de vinte anos, Miguel, possuidor de muitos quilos acima do peso ideal, beirando a obesidade mórbida.
        Os três viviam na mais completa desarmonia dentro da casa, Geraldo um marido impotente e pai relapso, Matilde uma esposa frígida e mãe que não se conformava com as atitudes do filho, ele por sua vez, não tolerava as opiniões e os ensinamentos moralmente rígidos dados pelos pais.
        Dia e noite era um clima de tensão entre eles, até aquele fatídico dia, daquela fatídica manhã ensolarada, quando tudo começou a se resolver definitivamente entre os três.
        Miguel acordou da noite bem dormida excitado como nunca, na penumbra da suíte ele abriu a porta do banheiro privativo e lá estava ela, linda, irresistível, a mulher dos seus sonhos, das suas mais íntimas fantasias, nua, sedenta para aplacar os instintos mais primitivos e selvagens dele.
        Fizeram amor como se não houvesse amanhã, de todos os jeitos de todos os lados até que às pancadas na porta do quarto interromperam os gemidos e gritinhos de prazer, Matilde ordenava que Miguel fosse almoçar imediatamente.
        Ele foi sozinho, sentou-se à mesa e escutou as reclamações do pai e da mãe. Geraldo insistia que Miguel arranjasse um emprego, Matilde que ele fosse converter-se na Igreja e livrar-se de suas tentações carnais. O obeso filho irritadíssimo abandonou o tenso almoço e retornou para a suíte, chegando lá abriu as portas do grande guarda roupa e ali estava ela, linda, sentada junto às suas roupas, a mulher dos seus desejos, a mulher dos seus carinhos.
        Mais uma vez se amaram como se não houvesse amanhã, gotas de suor perdidas de prazer serpenteavam o rosto de Miguel quando as horripilantes pancadas na porta interromperam abruptamente aquele momento de amor. Matilde exigia a presença do filho na sala.
        Ele foi sozinho, sentou-se à mesa e foi sumariamente exorcizado por um pastor, isto tirou Miguel do sério, irritadíssimo ele abandonou a sala e retornou para a suíte, em seguida despiu-se e debaixo da cama resgatou a mulher da sua vida, uma morena de bom tom gostosa como bombom e mais uma vez se amaram e mais uma vez respiraram e transpiraram com imenso prazer à volúpia daquela tórrida paixão.
        A tarde já arde covarde ao sol quando Geraldo chegou do trabalho, irada a esposa reclama do filho, o casal discute, Matilde se desespera pega a chave reserva da suíte do filho, uma faca do tipo peixeira para assustar a moça que estava com ele e invade intempestivamente a suíte de Miguel.
        A mãe atônita, pasma, desorientada descabela-se ao ver o filho nu ao lado de uma boneca inflável comprada em um sex shopping de pretensa qualidade. Matilde descontrolada passa a esfaquear a boneca de um metro e setenta, varias vezes para o desespero de Miguel, depois a mãe leva o que sobrou da boneca esfaqueada para o marido ver.  
        Geraldo reconhece que o filho trouxe o pecado para dentro de casa, o casal volta discutir onde um jogava a culpa no outro pelos atos obscenos do filho. Neste exato momento Miguel entra na sala esfaqueia o pai e a mãe, os dois esvaem-se em sangue, agonizando até morrer. O filho nu, sem remorso pega o que sobrou da mulher dos seus pecados, enrola-a em um lençol com carinho e sai caminhando pelas ruas com ela em seu colo, chocando a pequena e pacata sociedade local, da cidadezinha histórica do interior mineiro. 
 
Nota do autor: “Paranóia” é uma adaptação livre inspirada no filme curta metragem “Distúrbio” de Mauro d´Addio, para conto literário.

Copyright © 2011 Midu Gorini. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.